terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Revoltosos de Beja assinalam revolta contra a ditadura

A revolta de Beja ocorreu há 50 anos, abanando a ditadura salazarista, ditadura essa que se vê cada vez mais refletida na sociedade portuguesa com os "netos" do ditador a pugnarem pela aplicação de uma política anti-popular acente em leis cada vez mais fascizantes e repressivas.
A revolta de Beja foi um contributo inegável para o derrube do fascismo e a coragem dos revoltosos ainda hoje devem servir de motivação para a luta contra um governo ao serviço do grande capital financeiro europeu.

A poucos dias de se completarem cinquenta anos sobre a Revolta de Beja, vinte e dois participantes daquela acção antifascista emitiram uma declaração destinada a "resgatar a 'memória apagada' dessa efeméride, remetida como está para o limbo dos acontecimentos avulsos". Entre os subscritores contam-se o dirigente militar da revolta, coronel Varela Gomes, e o antigo tarrafalista Edmundo Pedro.
Insurrectos de Beja evocam revolta contra a ditadura
João Varela Gomes, o dirigente militar da acção revolucionária de Beja


A declaração (aqui em versão integral), longe de atribuir aos signatários um mérito sem paralelo com outras acções antisalazaristas, sublinha que "o combate e a resistência contra a ditadura e o fascismo em Portugal constituíram um processo histórico contínuo ao longo de metade do séc. XX. Nesse processo insere-se a Revolta de Beja [...] A sua importância e significado são-lhe conferidos pelo fluxo histórico no seu todo. Não foi um episódio isolado, fora do contexto da luta comum do povo português".
Signatários da declaração:

Airolde Casal Simões, Alexandre Hipólito dos Santos, Alfredo da Conceição Guaparrão Santos, António da Graça Miranda, António Pombo Miguel, António Ricardo Barbado, António Vieira Franco, Artur dos Santos Tavares, Edmundo Pedro, Eugénio Filipe de Oliveira, Fernando Rôxo da Gama, Francisco Brissos de Carvalho, Francisco Leonel Rodrigues Francisco Lobo, João Varela Gomes, José Galo, José Hipólito dos Santos, Manuel da Costa, Manuel Joaquim Peralta Bação, Raul Zagalo, Venceslau Luís Lopes de Almeida, Victor Manuel Quintão Caldeira, Victor Zacarias da Piedade de Sousa
Desse fluxo histórico, cita-se na declaração o "levantamento popular provocado pelas eleições presidenciais em 1958", recordando que o protagonista dessas eleições, general Humberto Delgado viria a ser "o impulsionador da Revolta de Beja", e posteriormente o primeiro duma lista de 87 cidadãos acusados de envolvimento na Revolta.

Para além dos antecedentes da Revolta, a referência ao fluxo histórico inclui os seus prolongamentos posteriores, nomeadamente a crise estudantil que eclodiu em Março de 1962 e a especial amplitude que assumiram as comemorações do 1º de Maio desse ano, apesar da proibição que sobre elas mantinha a ditadura. Nos anos seguintes, a linha de acontecimentos que acompanham a guerra colonial e conduzem ao 25 de Abril de 1974 não pode separar-se do impacto que teve a Revolta de Beja.
Jornal refere o acontecimento
Uma Revolta que efectivamente aconteceu
Com efeito, esta distinguiu-se de intentonas e protestos mais ou menos inócuos que se tinham sucedido ao longo da ditadura, nomeadamente a Abrilada de 1961, com a sua concepção exclusivamente palaciana, e disitnguiu-se também do que Delgado criticava como "oposição sentada". A Revolta de Beja, pelo contrário, como refere a declaração, "aconteceu e ficou selada em sangue e morte".

Os insurrectos foram desta vez operários e civis, de Almada ou do Bairro da Liberdade, e militares com antecedentes de conspiração, por certo, mas também com um historial de agitar na praça pública contra a ditadura.

Assim, Humberto Delgado, que veio clandestinamente a Portugal e se desolocou a Beja para assumir o comando da Revolta, era a mais conhecida figura da oposição. E o dirigente operacional da Revolta, então capitão Varela Gomes, tinha sido nas eleições de 1961 candidato oposicionista e o mais destacado agitador dessa campanha.

A grande maioria dos civis fora recrutada para a acção revolucionária de Beja por Manuel Serra, militante católico progressista, antigo oficial da marinha mercante, preso dois anos antes aquando da frustrada "Revolta da Sé" e depois evadido da prisão.

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