in Diário da Liberdade
Na França, há mais de 40 anos, camponeses da região de Notre-Dame-des-Landes, perto de Nantes (oeste do país), se opõem à construção de um aeroporto sobre suas terras. Em 2000, o projeto foi reimpulsionado pelo socialista e prefeito da cidade de Nantes Jean-Marc Ayrault, hoje em dia primeiro ministro da França. Durante os últimos anos, se juntaram à luta inúmeros jovens próximos aos movimentos de “okupas”, ao ecologismo radical ou a rede europeia “Reclaim the fields” (Exige o campo), que lutam contra a industrialização e a urbanização acelerada da sociedade, e buscam o resurgimento das bases de vida coletiva no campo. São assim mais de uma centena de pessoas que foram viver na zona ameaçada, ocupando casas abandonadas, construindo novas cabanas e criando hortas e hortaliças para resistir ao projeto do aeroporto.
Há alguns dias, teve lugar uma grande operação da polícia que abarcou mais de mil elementos policiamento, com o fim de despejar a onze dos lugares ocupados pelos oponentes. Apesar do enorme contingente de força, os jovens em luta conseguiram impedir o despejo de alguns dos lugares ameaçados, entre eles a granja coletiva “Le Sabot”, inaugurada ano passado por integrantes francófonos da rede europeia “Reclaim the fields”, num ato multitudinário de recuperação de terras agrícolas e de denuncia do projeto do aeroporto. (Protegidos pelas barricadas, o lugar símbolo da resistência de Notre-Dame des Landes segue ainda resistindo às forças policialesca). Quinta-feira retrasada, os policiais tentaram também acabar com os acampamentos dos oponentes estabelecidos nos dois bosques da zona igualmente ameaçados de destruição pelos promotores do projeto. Mas, enquanto a polícia se concentrava nos lugares conflituosos, oponentes aproveitaram o momento para reocupar algumas casas despejadas no dia anterior.
Em resposta a incursão policialesca e aos despejos, se multiplicam as ações e manifestações de solidariedade em toda França, desde a realização de marchas e a colocação de cobertas nas autopistas, até a degradação e a realização de sabotagens contra o VINCI, a empresa construtora, e em contra do Partido Socialista, promotor do projeto do aeroporto. Mensagens de solidariedade com a luta de Notre-Dame des Landes começam também a chegar de várias partes do mundo, mas cabe mencionar que, apesar da magnitude da operação e do âmbito nacional da luta, os meios de comunicação franceses se mostraram excepcionalmente silenciosos sobre os acontecimentos.
POR QUE LUTAMOS? Sobre a resistência ao aeroporto e seu mundo
Em Notre-Dame des Landes, responsáveis e construtoras trabalham sobre um novo aeroporto para realizar seus sonhos vorazes de metrópoles e expansão econômica. Agora faz já 40 anos que querem aniquilar com cimento 2000 hectares de terras agrícolas e habitantes do norte de Nantes, a ZAD, Zona de Condicionamento Adiado que chamamos Zona A Defender.
Desde os primeiros dias deste projeto, a resistência se organizou. Esta luta vai de encontro com os objetivos daqueles que se unem e pensam estratégias comuns. Com elas combateremos a alimentação de má qualidade, a sociedade industrial e a mudança climática, as políticas de desenvolvimento econômico, o controle do território, as metrópoles e as normalizações das formas de vida, a privatização do público, o mito do desenvolvimento e a ilusão da participação democrática... Hoje como ontem, aquel@s que se opõem, longe de baixar a guarda, continuam em luta: manifestações, recursos jurídicos, alianças com outras lutas, greve de fome, difusão na imprensa, pedágios gratuitos, sabotagens, perturbações dos estudos de impacto do biótopo e dos estudos arqueológicos, ocupações dos escritórios e das obras etc. Com grande prejuízo do Estado e de VINCI (empresa responsável pela construção do aeroporto)que compram e destroem para esvaziar a ZAD, a vida e a atividade tem se intensificado e diversificado nos últimos três anos.
Numerosas casas abandonadas foram reabilitadas e okupadas, foram construídas cabanas no solo e nas árvores, coletivos okupam terras para fazer hortas. Espaços de reunião, padaria, biblioteca, albergues estão abertos para todos. Mais de uma centena de pessoas okupavam dia a dia a ZAD, apoiados por muitas pessoas de muitos lugares que se encontraram e se organizaram. A presença destas pessoas no terreno permitiu reações rápidas frente aos processos começados pela VINCI, a fim de realizar as obras. Este viveiro criativo e desobediente busca agora erradicar-nos para poder começar seus trabalhos. Guardamos na nossa própria memória as vitórias passadas contra os projetos megalomaníacos, do nuclear ao militar. Como Carnet, Plogoff ou Larzac, sabemos que a construção deste aeroporto pode ser barrada. Olhamos do outro lado dos Alpes, onde a oposição à construção da linha ferroviária de alta velocidade Lyon-Turin mobiliza todo um vale, onde dezenas de milhares de pessoas impedem os trabalhos. Aqui também custará caro toda tentativa de destruição das terras.
Nota sobre o Despejo da ZAD
Comunicado de imprensa dos oponentes da ZAD, 17 de outubro às 23h30
VIVEMOS AQUI, FICAREMOS AQUI!
Depois de dois dias de resistência e solidariedade, só sete casas e um terreno foi despejada na “ZAD”, zona ameaçada de destruição pelo projeto de aeroporto de Notre-Dame-des-Landes. Por todos os lados, os policiais se encontraram com a determinação dos oponentes sob diversas formas: habitantes que se recusaram a sair das suas casas, outros se refugiaram no teto das casas, agrupamentos perto das moradias, barricadas nos caminhos, oponentes chegando de fora para se juntar à zona, etc.
Por horas os oponentes defenderam os terrenos do “Far Ouest” do lugar conhecido como “Le Sabot”, terras baldias transformadas de novo em hortaliças em maio de 2011, hoje em dia abandonadas sob nuvens de gazes lacrimogêneos, [mas onde se resiste] ao som de uma batucada. Há ações de solidariedade que se organizam ao redor da ZAD, entre outros agrupamentos frente a prefeitura da cidade de Nates.
Apesar do que havia sido sugerido pelo prefeito de Nantes, terça pela manhã, a zona segue ainda longe de ser esvaziada pelos elementos policialesco. Ainda ficaram cerca de vinte lugares ocupados, sem contar os proprietários, inquilinos e camponeses que vivem ainda na zona. É forte a pressão da polícia, como testemunha o incêndio de uma cabana realizado pelos policiais que não verificaram antes se havia pessoas dentro da cabana; mesmo assim, não silenciará a resistência.
Aqui como fora, desde Atenco até Vak de Susa, passando por “Chéfresne” e todos os lugares onde as lutas se levam a cabo, teremos que rechaçar seu reordenamento territorial.
Aqui como fora, desde Atenco até Vak de Susa, passando por “Chéfresne” e todos os lugares onde as lutas se levam a cabo, teremos que rechaçar seu reordenamento territorial.
CHAMADO PARA A MANIFESTAÇÃO DE REOCUPAÇÃO, 17 de novembro de 2012, na Zona a Defender
Notre-Dame des Landes. Contra as expulsões, Manifestación de Réocupación! Para reconstruir – contra o aeroporto! Martelo, vigas, taboas, pregos e ferramentas na mão.
A luta contra o projeto do aeroporto de Notre-Dame des Landes aumentou a pressão durante os últimos anos. Entre outras iniciativas, um movimento de okupação se estendeu aos imóveis e bosques ameaçados. Há mais de um ano, frente as ameaças crescentes sobre as diferentes casas, cabanas e hortas, @s habitantes da ZAD e coletivos solidários chamavam uma manifestação de re-okupação se a expulsão fosse levada a cabo.
Esta chamada a reokupar foi lançada pela rede “Reclaim the Fields” e também pelos ocupantes da ZAD, que tinham ocupados as terras abandonadas com mais de mil pessoas, em maio de 2011, para criar a horta “Le Sabot”. Convidamos hoje todos os grupos que desejam difundir esta iniciativa e a se juntar a organização do 17 de novembro. Além de uma manifestação, antes de tudo, se deseja uma ação coletiva que ganhará força com uma grande e ativa presença de participantes. Podem estar aqui para o fim de semana para preparar a ocupação, continuar as construções, defendê-las e realizar um afloramento de ideias pra a continuação. Tragam ferramentas e materiais diversos, macacão de trabalho, som, criações originais e locais, rádios portáteis, comida para compartir e uma determinação sem limites. Será possível chegar um dia antes, um espaço de acampamento se anunciará aos dias que precederão a manifestação.
Já que a energia necessária para resistir às expulsões e a exaustão consequente para @s ocupantes, o êxito desta manifestação depende, de modo crucial, da implementação dos coletivos e indivíduos solidários de todos os lugares. Chamamos a que se organizem reuniões públicas, que se comparta a informação e que se comparta carro em cada cidade para vir para a manifestação. Já que a situação muda a cada dia, olhe regularmente as informações no site http://zad.nadir.org/ . Para o dia 17 de novembro, buscamos vigas, materiais de construções e escalada, cozinhas coletivas, barracas, músicos, batucadas, cabanas pré-moldadas para montar, ferramenta, tratores... para mais dúvidas, ajuda, reenvio de informação, contribuições, entre em contato: reclaimthezad@riseup.net
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